A vida das cidades, como a vida em geral, é determinada por factores "genéticos" e factores externos. Evolui de acordo com cenários definidos por aqueles dois tipos de vectores segundo um conjunto de estímulos a que se chama estratégia. Se, no caso de um ser vivo, o objectivo é a sobrevivência, quando se trata de uma cidade, de uma região ou de um país, o objectivo é o desenvolvimento nas suas componentes social, económica, cultural e ambiental. Durante dez anos, a estratégia de desenvolvimento do concelho de Azambuja e de toda a região foi determinada por uma verdade indiscutível: a localização do novo aeroporto de Lisboa na Ota.
Como todas as decisões indiscutíveis em Portugal, não resistiu a seis meses de investidas dos mais diversos sectores (perdoem-me a expressão ribatejana) e foi aterrar no Campo de Tiro de Alcochete. Mas deixou, atrás de si, um rasto de condicionantes e restrições - e os decisores locais e regionais órfãos de aeroporto e de estratégia de de-senvolvimento, vazios de fábricas e empregos imaginados. Foi um tsunami regional, particularmente para Alenquer e Azambuja. Naturalmente, o Governo compreendeu a necessidade de dar uma atenção especial aos municípios da área preterida e, durante seis meses, foi negociado e aprovado o Plano de Acção para os Municípios do Oeste e quatro municípios da Lezíria do Tejo (Azambuja, Cartaxo, Rio Maior e Santarém), que redefiniu um conjunto de intervenções potenciadoras do desenvolvimento para toda a região.
O processo foi exemplar do ponto de vista das técnicas de planeamento: completo, pois abrangeu todas as áreas de intervenção do Estado; participado, na medida em que os 16 municípios envolvidos foram parceiros activos e constantes; interactivo, porque o modelo final foi obtido por aproximações sucessivas. Considero que seria um excelente caso de estudo de macroplaneamento em qualquer universidade.
O plano de acção pode configurar um modelo de de-senvolvimento alternativo ao modelo Ota, mas não consubstancia uma estratégia de desenvolvimento regional. Efectivamente, o plano canaliza para a região investimentos estruturantes a nível de acessibilidades, quer rodoviárias quer ferroviárias; programa e faseia a instalação de equipamentos sociais de diversos fins; aposta na valorização de meios humanos e do património; na desburocratização; na potenciação do turismo.
Só para o concelho de Azambuja, se bem executado, implicará, até 2017, investimentos que se aproximam dos 200 milhões de euros.
O grande desafio para os autarcas e decisores regionais não vai ser apenas criar estruturas que permitam concretizar o plano de acção. Será, fundamentalmente, face aos meios disponibilizados, conseguir envolver a sociedade e os seus agentes numa estratégia de desenvolvimento que conduza a um modelo sustentável para a região e que será, necessariamente, diferente do modelo que decorreria da opção Ota. Na minha óptica, ainda é cedo para se considerar encontrado. É urgente construí-lo, sob pena de termos um conjunto de intervenções importantes mas desencabresta-das (perdão novamente pela costela ribatejana
).
Joaquim António Ramos
Presidente da Câmara Municipal da Azambuja
in DN
sábado, dezembro 06, 2008
UM MODELO SUSTENTÁVEL APÓS TSUNAMI REGIONAL
Posted by Nuno Inácio at 7:20 da tarde
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